Langue   

Monangambé

Rui Mingas‎
Langue: portugais


Rui Mingas‎


Naquela roça grande não tem chuva
é o suor do meu rosto que rega as plantações:‎
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Naquela roca grande tem café maduro
e aquele vermelho-cereja
são gotas do meu sangue feitas seiva.‎
‎ ‎
O café vai ser torrado
pisado, torturado,‎
vai ficar negro, negro da cor do contratado.‎
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Negro da cor do contratado!‎
‎ ‎
Perguntem às aves que cantam,‎
aos regatos de alegre serpentear
e ao vento forte do sertão:‎
‎ ‎
Quem se levanta cedo? quem vai à tonga?‎
Quem traz pela estrada longa
a tipóia ou o cacho de dendém?‎
Quem capina e em paga recebe desdém
fuba podre, peixe podre,‎
panos ruins, cinqüenta angolares
‎"porrada se refilares"?‎
‎ ‎
Quem?‎
‎ ‎
Quem faz o milho crescer
e os laranjais florescer
‎- Quem?‎
‎ ‎
Quem dá dinheiro para o patrão comprar
maquinas, carros, senhoras
e cabeças de pretos para os motores?‎
‎ ‎
Quem faz o branco prosperar,‎
ter barriga grande - ter dinheiro?‎
‎- Quem?‎
‎ ‎
E as aves que cantam,‎
os regatos de alegre serpentear
e o vento forte do sertão
responderão:‎

‎"Monangambééé..."‎
‎ ‎
Ah! Deixem-me ao menos subir às palmeiras
Deixem-me beber maruvo, maruvo
e esquecer diluído nas minhas bebedeiras
‎ ‎
‎"Monangambééé..."‎



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