Santos Júnior

Canzoni contro la guerra di Santos Júnior
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Santos JúniorSantos Júnior e o Kissanguela

Primórdios da carreira

Domingos Pereira dos Santos Júnior nasceu no dia 17 de Setembro de 1947, em Luanda, no bairro Marçal, e recorda que foi impelido para a música, de forma natural, inspirado na arte de um tio, irmão da mãe, que integrava um grupo carnavalesco de Kazucuta, no bairro Rangel. O tio, Adão Agostinho, quando regressava a casa, tinha um comportamento que impressionava o então adolescente, Santos Júnior, quando, nos momentos de convívio, extraía sons "maravilhosos", de forma curiosa, batendo e friccionando as mãos contra o peito, vocalizando, em falsete, os sons de uma corneta feita de lata, instrumento que nos remete, de forma automática, para os "funileiros"- artífices suburbanos do carnaval luandense.
Estamos em 1958, altura em que Santos Júnior frequentava, enquanto estudante, a Lagoa do Moreira, no bairro Marçal, local onde se concentravam os mais famosos grupos de carnaval de Luanda: "União Kiela", "Invejados" e "Cidrália", incluindo outros grupos de referência. Santos Júnior cresceu neste ambiente musical, e, daí, foi evolução progressiva de um percurso vertiginoso, que o levou a juntar-se a Manuel Domingos Jorge, irmão do falecido cantor e compositor Quim Jorge, ao Kito Jorge e Toneco. Com este grupo, Santos Júnior fez várias apresentações na Liga Nacional Africana. O salto posterior foi a sua integração no grupo "Mamukueno e seus kubanzas", em 1963, e "Divúas do Ritmo", em 1965. O primeiro integrava o cantor Mamukueno, na voz principal, Flecha (viola baixo), Toneco (viola solo), Zitocas (tumbas) e Santos Júnior (caixa e voz) e o segundo integrava os músicos Artur Adriano (voz), Laurindo e Eugénio.
Santos Júnior passou pelo a grupamento Musangola, com Calabeto (voz), Honorato (viola baixo e ritmo), Mário (solo) ,e, em 1971, junta-se ao grupo "Bossa 70", uma formação dirigida pelo mais velho Pedro Franco, um entusiasta e amante da música angolana, já falecido. O "Bossa 70" integrava o Benvindo (viola solo), Luís, enteado do não menos célebre Nicolau Cangalheiro, do Marçal, Tonecas (vocal) e Velinho.

A carreira a solo

O período posterior ao "Bossa 70", marca a opção de Santos Júnior por uma carreira a solo. É nesta época que surge o grande sucesso, "Madalena", gravado em 1973, nos estúdios da Valentim de Carvalho, com grupo Semba, uma selecção sazonal de músicos que integrava o Ângelo Quental (viola solo), Mário Silva (viola ritmo), Carlitos Vieira Dias (viola baixo) e Raúl Tolingas (percussão), uma canção da qual transcrevemos o texto integral: Talenu Madalena/Talenu Madalena/Talenu Madalena/Ua nhana Kia/Uexile kiá mbote/ku bata diami/leIo ua tundu/ó kiki alo nhana kiá/Uexile ku bita/ku dima diá gajageira/Nga sanguele Madalena/Alo kumu beta/ó ó ua nhana fazenda/ó ó ua nhana fazenda...
Santos Júnior aparece, doravante, nos palcos dos kutonocas, espectáculos regulares de rua, organizados por Luís Montez, nas zonas suburbanas da capital luandense, nas edições do "Dia do trabalhador" e da "Aguarela angolana", no histórico Ngola Cine. Com a evolução técnica da generalidade dos instrumentistas angolanos, Santos Júnior começa a exigir mais de si próprio e, com o advento do 25 de Abril de 1974, integra o agrupamento "Kissanguela", iniciando, nesta fase, o grande ciclo da canção revolucionária.

As canções de Santos Júnior

As canções de Santos Júnior, registadas num conjunto de singles gravados, pela editora Valentim de Carvalho, de 1973 a 1975, evocam situações de conflitualidade social e amorosa ou simples ocorrências do quotidiano, plasmadas em criações com um lirismo melódico, como em "Maria Rita", uma canção em que o autor roga à sua amada que entregue o seu filho, depois desta ter caído nas malhas da prostituição.
As canções "Aló tu jiba", "Tua xixima", "Ubica", "Nuka ndingue njitanguessa", "Tua sakidila", "Mukulo", "Kamba diá nguma", "Kalumbinga", "Tua tane kiá", "Ikuma", "Ngui banza mamã", "Rumba esperança", "Tuá sakidila", "Mukulo", "Mona nguma", "Manuele", "Madalena" e "Maria Rita", já referenciadas, constituem um espólio musical que ajuda a compreender as motivações e o ambiente social dos musseques de Luanda, um espaço, pré-urbano, fundamental na formação da história da Música Popular Angolana.

A integração no "Kissanguela"

O "Kissanguela", recorda Santos Júnior, "foi um grupo musical que integrou elementos provenientes de vários quadrantes e formações musicais. Depois do 25 de Abril de 1974, ocorre a paralisação total de vários grupos e cantores, facto que inibiu a produção e distribuição discográfica, em todo o país. Surge, então, a necessidade de se criar um grupo dentro da J.M.P.L.A, uma iniciativa que partiu do falecido José Agostinho, Tonito, Elias diá Kimuezo e Artur Adriano, que foram os verdadeiros fundadores do "Kissanguela".
O nome, "Kissanguela", foi criado pelo Elias diá Kimuezo, diz, convicto, Santos Júnior, que integrou o "Kissanguela", no início, a tocar tumbas. O "Kissanguela" aparece, pela primeira vez, em público, com Manuel Quental (viola solo), Massangano (viola ritmo), Manuelito (viola baixo) Santos Júnior (tumbas e voz), Artur Adriano (voz) e Mário Silva (voz).
Numa das primeiras digressões por terras da província do Huambo, em 1974, com David Zé, Artur Nunes e Urbano de Castro, o falecido Candinho passa a substituir Santos Júnior, nas tumbas, por imperativos técnicos. Uma segunda substituição acontece numa altura em que Manuel Quental, adoentado, se afasta do grupo e aceita a integração do guitarrista Belmiro Carlos. Mais tarde, o Adolfo, irmão do carismático guitarrista Duia, começa a fazer parte do grupo, substituindo a viola ritmo do Massangano.

Digressões do "Kissanguela"

A primeira grande digressão do "Kissanguela" acontece na altura das independências dos países africanos de língua oficial portuguesa, Moçambique (1975) e S.Tomé (1975), acabando por fazer parte da comitiva presidencial do Dr. Agostinho Neto a Cabo Verde e à Guiné Conacry. Da Guiné Conacry, o "Kissanguela" regressa influenciado, tecnicamente, por um grupo local, depurando as técnicas do género "Sekessa", uma mudança estética plasmada na canção "Nvunda mu África", interpretada por Artur Adriano.
Depois foi a passagem pela Argélia e Bulgária, e, neste último país, o grupo foi convidado a participar num renomado festival denominado "Alemac", na edição de 1976. O "Kissanguela" dividiu o palco, no campo de Futebol do S.Paulo, em Luanda, com o os grupos "Bantu de la Capital" e Los Angeles, formações juvenis, do Congo Brazzaville.