Su patriottu Sardu a sos feudatarios [Procurad' e moderare]
Francesco Ignazio MannuOriginale | La versione portoghese di José Colaço Barreiros. |
SU PATRIOTTU SARDU A SOS FEUDATARIOS [PROCURAD' E MODERARE] | FALA DO PATRIOTA SARDO AOS FEUDATÁRIOS |
1. Procurade e moderare, Barones, sa tirannia, Chi si no, pro vida mia, Torrades a pe' in terra! Declarada est già sa gherra Contra de sa prepotenzia, E cominzat sa passienzia ln su pobulu a mancare | 1. Tratem lá de moderar, ó barões, a tirania, senão, juro, chegou o dia que os verá cair por terra. Declarada foi já a guerra contra toda a prepotência, que entre o povo a paciência hoje começa a faltar. |
2. Mirade ch'est azzendende Contra de ois su fogu; Mirade chi non est giogu Chi sa cosa andat a veras4; Mirade chi sas aeras Minettana temporale; Zente cunsizzada male, Iscultade sa 'oghe mia. | 2. Cuidado! que já se ateia contra vocês a fogueira, isto não é brincadeira, é bem séria a exaltação. Vejam o céu em negridão que ameaça temporal; ó gente avisada mal, não julguem que é fantasia. |
3. No apprettedas s 'isprone A su poveru ronzinu, Si no in mesu caminu S'arrempellat appuradu; Mizzi ch'es tantu cansadu E non 'nde podet piusu; Finalmente a fundu in susu S'imbastu 'nd 'hat a bettare. | 3. Não carreguem co’as esporas sobre o rocim lazarento, senão a meio do andamento irá estacar revoltado; que já vem fraco e cansado, não aguenta mais a brida: só quer dar fim à corrida e o cavaleiro apear. |
4. Su pobulu chi in profundu Letargu fit sepultadu Finalmente despertadu S'abbizzat ch 'est in cadena, Ch'istat suffrende sa pena De s'indolenzia antiga: Feudu, legge inimiga A bona filosofia! | 4. O povo que num profundo letargo foi sepultado, finalmente despertado, dá p’la grilheta que o prende. Cumprindo a pena se sente da sua indolência antiga: o feudo, lei inimiga da boa filosofia. |
5. Che ch'esseret una inza, Una tanca, unu cunzadu, Sas biddas hana donadu De regalu o a bendissione; Comente unu cumone De bestias berveghinas Sos homines et feminas Han bendidu cun sa cria | 5. Como se fora coutada, um olival ou uma vinha, para ele a gente mesquinha é só uma renda barata; e com mais desprezo a trata do que aos outros seus haveres, vendendo homens e mulheres, como gado, com a cria. |
6. Pro pagas mizzas de liras, Et tale olta pro niente, Isclavas eternamente Tantas pobulassiones, E migliares de persones Servint a unu tirannu. Poveru genere humanu, Povera sarda zenia! | 6. Por soldadas de miséria ou só p’la reles comida escravas por toda a vida são tantas populações. São pessoas aos milhões todas servindo um tirano. Oh pobre género humano, e pobre da sarda etnia! |
7. Deghe o doighi familias S'han partidu sa Sardigna, De una menera indigna Si 'nde sunt fattas pobiddas; Divididu s'han sas biddas In sa zega antichidade, Però sa presente edade Lu pensat rimediare. | 7. Uma dúzia de famílias da Sardenha se apoderam e sem pudor deliberam: cada qual com os seus quinhões de terra e povoações desde a tetra antiguidade; contudo a presente idade o mal quer remediar |
8. Naschet su Sardu soggettu A milli cumandamentos, Tributos e pagamentos Chi faghet a su segnore, In bestiamen et laore In dinari e in natura, E pagat pro sa pastura, E pagat pro laorare. | 8. Nasce o sardo submetido a mais de mil mandamentos, tributos e pagamentos a fazer ao seu senhor, em dinheiro e com o suor, tudo o que da terra nasça, e nem o pasto é de graça; paga até para trabalhar. |
9. Meda innantis de sos feudos Esistiana sas biddas, Et issas fe ni pobiddas De saltos e biddattones. Comente a bois, Barones, Sa cosa anzena est passada? Cuddu chi bos l'hat dada Non bos la podiat dare. | 9. Já bem antes destes feudos havia aldeias e casais que eram os donos naturais de baldios e plantações. Como é que para os barões tal propriedade passou? Quem a vocês a entregou poder não tinha para a dar. |
10. No est mai presumibile Chi voluntariamente Hapat sa povera zente Zedidu a tale derettu; Su titulu ergo est infettu De s'infeudassione E i sas biddas reione Tenene de l'impugnare | 10. Não será de presumir que foi voluntariamente que algum dia a pobre gente renunciou a tal direito. Tem pois o título o defeito de ilegal apropriação, nem falta ao povo razão para o querer impugnar. |
11. Sas tassas in su prinzipiu Esigiazis limitadas, Dae pustis sunt istadas Ogni die aumentende, A misura chi creschende Sezis andados in fastu, A misura chi in su gastu Lassezis s 'economia. | 11. Dos tributos ao princípio limitavam a exigência, mas para pagar a opulência dia a dia vão crescendo, e vocês enriquecendo, sempre aumentando o fasto, que no luxo e no mal gasto perderam a economia. |
12. Non bos balet allegare S'antiga possessione Cun minettas de presone, Cun gastigos e cun penas, Cun zippos e cun cadenas Sos poveros ignorantes Derettos esorbitantes Hazis forzadu a pagare | 12. E não venham alegar que é antiga a possessão com ameaças de prisão, com castigos e com penas, com o azorrague e as algemas; porque aos pobres ignorantes, impostos exorbitantes forçaram sempre a pagar. |
13. A su mancu s 'impleerent In mantenner sa giustissia Castighende sa malissia De sos malos de su logu, A su mancu disaogu Sos bonos poterant tenner, Poterant andare e benner Seguros per i sa via. | 13. Ao menos que se aplicassem em defender a justiça e castigar a malícia de quem por gosto o mal faz. Assim a gente de paz poderia sem temer os caminhos percorrer e algum sossego teria. |
14. Est cussu s'unicu fine De dogni tassa e derettu, Chi seguru et chi chiettu Sutta sa legge si vivat, De custu fine nos privat Su barone pro avarissia; In sos gastos de giustissia Faghet solu economia | 14. Porque é este o único fim de todo o imposto e direito: para que seguro e com jeito e dentro da lei se viva. É deste fim que nos priva o barão por avareza: que a justiça é a despesa em que faz economia. |
15. Su primu chi si presenta Si nominat offissiale, Fattat bene o fattat male Bastat non chirchet salariu, Procuradore o notariu, O camareri o lacaju, Siat murru o siat baju, Est bonu pro guvernare. | 15. O primeiro que apareça, nomeiam-no oficial, cumpra bem ou cumpra mal, basta não pedir salário: procurador ou notário, camareiro ou exactor, branco, preto ou doutra cor, serve bem para governar. |
16. Bastat chi prestet sa manu Pro fagher crescher sa r’nta, Bastat si fetat cuntenta Sa buscia de su Segnore; Chi aggiuet a su fattore A crobare prontamente Missu o attera zante Chi l'iscat esecutare | 16. Basta-lhe ter mão pesada para acrescer o rendimento. Basta engordar a contento a bolsa do seu senhor; que dê ajuda ao feitor na cobrança prontamente; e havendo algum renitente, que trate de o penhorar. |
17. A boltas, de podattariu, Guvernat su cappellanu, Sas biddas cun una manu Cun s'attera sa dispensa. Feudatariu, pensa, pensa Chi sos vassallos non tenes Solu pro crescher sos benes, Solu pro los iscorzare. | 17. Às vezes, pelo fidalgo, quem governa é o capelão, as aldeias com uma mão e com a outra a despensa. Feudatário, pensa, pensa que os vassalos não os tens só para aumentar os teus bens, nem só para os esfolar. |
18. Su patrimoniu, sa vida Pro difender su villanu Cun sas armas a sa manu Cheret ch 'istet notte e die; Già ch 'hat a esser gasie Proite tantu tributu? Si non si nd'hat haer fruttu Est locura su pagare. | 18. Querem património e vida defendidos pelo vilão, e que ele de armas na mão os resguarde noite e dia; se comandam nesta via, porque impõem mais tributo? Se deste não se vê fruto, grande tolice é pagar. |
19. Si su barone non faghet S'obbligassione sua, Vassallu, de parte tua A nudda ses obbligadu; Sos derettos ch'hat crobadu In tantos annos passodos Sunu dinaris furados Et ti los devet torrare. | 19. Vassalo, pela tua parte, já que a sua obrigação jamais a cumpre o barão, a nada estás obrigado; o imposto que tem cobrado em tantos anos passados foram dinheiros roubados que ele te deve entregar. |
20. Sas r’ntas servini solu Pro mantenner cicisbeas, Pro carrozzas e livreas, Pro inutiles servissios, Pro alimentare sos vissios, Pro giogare a sa bassetta, E pro poder sa braghetta Fora de domo isfogare, | 20. Só têm serventia as rendas para sustentar rameiras, librés, coches e liteiras; para vãos e inúteis serviços, para alimentar os vícios, para beber e para a batota e para poder a bragota cá fora descarregar. |
21. Pro poder tenner piattos Bindighi e vinti in sa mesa, Pro chi potat sa marchesa Sempre andare in portantina; S'iscarpa istrinta mischina, La faghet andare a toppu, Sas pedras punghene troppu E non podet camminare | 21. Para poder ter uns quinze ou vinte pratos à mesa, para que possa a marquesa andar sempre de cadeira: chapim curto faz coxeira; pois as pedras dos caminhos magoando-lhe os pezinhos não a deixam caminhar. |
22. Pro una littera solu Su vassallu, poverinu, Faghet dies de caminu A pe', senz 'esser pagadu, Mesu iscurzu e ispozzadu Espostu a dogni inclemenzia; Eppuru tenet passienzia, Eppuru devet cagliare. | 22. Por uma carta o vassalo anda até dias a fio ao sol, à chuva ou ao frio, a pé, sem receber nada, descalço, quase esgotada toda a sua resistência; mas que tenha paciência: tem de comer e calar. |
23. Ecco comente s 'impleat De su poveru su suore! Comente, Eternu Segnore, Suffrides tanta ingiustissia? Bois, Divina Giustissia, Remediade sas cosas, Bois, da ispinas, rosas Solu podides bogare. | 23. Desbaratam o suor do pobre desprezando o seu valor. Mas como, Eterno Senhor, suportais tanta injustiça? Só vós, Divina Justiça, podeis remediar as cousas. Só vós espinhos em rosas sois capaz de transformar. |
24. Trabagliade trabagliade O poveros de sas biddas, Pro mantenner' in zittade Tantos caddos de istalla, A bois lassant sa palla Issos regoglin' su ranu, Et pensant sero e manzanu Solamente a ingrassare. | 24. Trabalhai, pobres do campo, quais forçados com os grilhões, para sustentar os salões da corja que não trabalha. Para vós deixam a palha e eles recolhem o grão, sem outra preocupação que não seja a de engordar. |
25. Su segnor feudatariu A sas undighi si pesat. Dae su lettu a sa mesa, Dae sa mesa a su giogu. Et pastis pro disaogu Andat a cicisbeare; Giompidu a iscurigare Teatru, ballu, allegria | 25. Este senhor feudatário às onze, cheio de fraqueza, acorda e senta-se à mesa; vai jogar para o botequim até se fartar; no fim, corteja então qualquer dama, e ao serão o seu programa é teatro, bailes, folia. |
26. Cantu differentemente, su vassallu passat s'ora! Innantis de s'aurora Già est bessidu in campagna; Bentu o nie in sa muntagna. In su paris sole ardente. Oh! poverittu, comente Lu podet agguantare!. | 26. De tão dif’rente maneira ao vassalo corre a vida: já está no campo, na lida, antes de romper a aurora; com vento ou neve lá fora, é o mesmo, ou sol ardente! Coitado! Que tanto aguente é bem cousa de espantar! |
27. Cun su zappu e cun s'aradu Penat tota sa die, A ora de mesudie Si zibat de solu pane. Mezzus paschidu est su cane De su Barone, in zittade, S'est de cudda calidade Chi in falda solent portare. | 27. Com a enxada ou com o arado, vai penando todo o dia e quando chega o meio-dia tem de pão seco a ração. Mais bem nutrido é o cão que o Barão tem na cidade, se for dessa qualidade que ao colo costuma andar. |
28. Timende chi si reforment Disordines tantu mannos, Cun manizzos et ingannos Sas Cortes han impedidu; Et isperdere han cherfidu Sos patrizios pius zelantes, Nende chi fint petulantes Et contra sa monarchia | 28. Temendo que reformassem alguns destes seus desmandos, com mil manejos e enganos vão as Cortes impedindo; enquanto estão dividindo os patrícios mais zelosos, chamando-lhes presunçosos contrários à monarquia. |
29. Ai cuddos ch’in favore De sa patria han peroradu, Chi sa ispada hana ogadu Pro sa causa comune, O a su tuju sa fune Cheriant ponner meschinos. O comente a Giacobinos Los cheriant massacrare. | 29. Aos valentes que a favor da sua pátria peroraram, que a espada desembainharam em prol da causa comum, pendurá-los um por um, acusando-os de malinos com o labéu de jacobinos, bem os queriam massacrar. |
30. Però su chelu hat difesu Sos bonos visibilmente, Atterradu bat su potente, Ei s’umile esaltadu, Deus, chi s’est declaradu Pro custa patria nostra, De ogn’insidia bostra Isse nos hat a salvare. | 30. Mas veio o céu defender os justos visivelmente. Mandou abaixo o potente e os humildes exaltou. E Deus, que se colocou do lado da pátria nossa, de toda a insídia vossa é quem nos há de salvar. |
31. Perfidu feudatariu! Pro interesse privadu Protettore declaradu Ses de su piemontesu. Cun issu ti fist intesu Cun meda fazilidade: Isse papada in zittade E tue in bidda a porfia. | 31. Ó pérfido feudatário! P’lo teu interesse privado, tu protector declarado do piemontês te fizeste, e com ele te entendeste com a maior facilidade: Ele come na cidade e tu na aldeia à porfia. |
32. Fit pro sos piemontesos Sa Sardigna una cucagna; Che in sas Indias s 'Ispagna Issos s 'incontrant inoghe; Nos alzaiat sa oghe Finzas unu camareri, O plebeu o cavaglieri Si deviat umiliare... | 32. Para o piemontês um maná foi a ilha da Sardenha; como nas Índias a Espanha, assim estava ele entre nós: mal nos levantava a voz nem que fosse algum sandeu, o sardo, nobre ou plebeu, devia a cerviz curvar... |
33. Issos dae custa terra Ch’hana ogadu migliones, Beniant senza calzones E si nd’handaiant gallonados; Mai ch’esserent istados Chi ch’hana postu su fogu Malaittu cuddu logu Chi criat tale zenìa | 33. Daqui desta nossa terra tiraram eles milhões, que, chegando sem calções, é só galões ao partir. Nunca houvesse de surgir quem tanto assola e devasta, pois maldita seja a casta que tão ruim semente cria. |
34. Issos inoghe incontr’na Vantaggiosos imeneos, Pro issos fint sos impleos, Pro issos sint sos onores, Sas dignidades mazores De cheia, toga e ispada: Et a su sardu restada Una fune a s’impiccare! | 34. Vieram fazer entre nós vantajosos casamentos, têm cargos de bons proventos, honrarias e louvores, e as dignidades maiores de igreja, de toga e espada. Para o sardo não resta nada: só a corda para se enforcar! |
35. Sos disculos nos mand’na Pro castigu e curressione, Cun paga e cun pensione Cun impleu e cun patente; In Moscovia tale zente Si mandat a sa Siberia Pro chi morzat de miseria, Però non pro guvernare | 35. Os seus díscolos nos mandam para castigo e correcção, com salário e com pensão, emprego, alvará e licença. Na Rússia, esta concorrência é mandada para a Sibéria: para morrer de miséria, mas nunca para governar. |
36. Intantu in s’insula nostra Numerosa gioventude De talentu e de virtude Oz’osa la lass’na: E si algun ‘nd’imple’na Chircaiant su pius tontu Pro chi lis torrat a contu cun zente zega a trattare. | 36. Entretanto aqui a nossa numerosa juventude de talento e de virtude, no ócio é que lhes convém. E quando empregam alguém é o mais néscio apurado, que lhes dá bom resultado com tola gente lidar. |
37. Si in impleos subalternos Algunu sardu avanz’na, In regalos non bastada Su mesu de su salariu, Mandare fit nezessariu Caddos de casta a Turinu Et bonas cassas de binu, Cannonau e malvasia. | 37. Se em empregos subalternos há algum sardo que avança, nos presentes p’rá folgança não lhe chega meio salário: para Turim é necessário mandar carne de suíno, cavalos de raça, e vinho moscatel e malvasia. |
38. De dare a su piemontesu Sa prata nostra ei s'oro Est de su guvernu insoro Massimu fundamentale, Su regnu andet bene o male No lis importat niente, Antis creen incumbeniente Lassarelu prosperare. | 38. O ouro e prata que são nossos, do ir dá-los ao piemontês já o governo deles fez máxima fundamental. Que o reino ande bem ou mal para eles é indiferente, acham mesmo inconveniente deixarem-no prosperar. |
39. S'isula hat arruinadu Custa razza de bastardos; Sos privilegios sardos Issos nos hana leadu, Dae sos archivios furadu Nos hana sas mezzus pezzas Et che iscritturas bezzas Las hana fattas bruiare. | 39. À ruina levou a ilha esta raça de bastardos. Quanto aos privilégios sardos todos eles nos tiraram; dos arquivos nos roubaram o que havia de melhor, e qual papel sem valor logo o mandaram queimar. |
40. De custu flagellu, in parte, Deus nos hat liberadu. Sos sardos ch'hana ogadu Custu dannosu inimigu, E tue li ses amigu, O sardu barone indignu, E tue ses in s'impignu De 'nde lu fagher torrare | 40. Mas já do flagelo, em parte – graças a Deus! – se livrou, já o povo sardo expulsou esse nefasto inimigo. E tu ainda és seu amigo, indigno sardo barão? Porquê tanta agitação para o fazer retornar? |
41. Pro custu, iscaradamente, Preigas pro su Piemonte, Falzu chi portas in fronte Su marcu de traitore; Fizzas tuas tant'honore Faghent a su furisteri, Mancari siat basseri Bastat chi sardu no siat. | 41. Assim, descaradamente, vens pregando p’lo Piemonte: falso que trazes na fronte o ferrete de traidor! Tua filha preito e favor não nega a um aventureiro, dês’ que seja forasteiro: que nos sardos não se fia. |
42. S'accas 'andas a Turinu Inie basare des A su minustru sos pes E a atter su... giù m 'intendes; Pro ottenner su chi pretendes Bendes sa patria tua, E procuras forsis a cua Sos sardos iscreditare | 42. Se acaso vais a Turim a beijar obrigado és a qualquer ministro os pés, e a outro o... bem me entendes; Para obter o que pretendes vendes a tua pátria antiga, e o que é sardo, por intriga, tentas desacreditar. |
43. Sa buscia lassas inie, Et in premiu 'nde torras Una rughitta in pettorra Una giae in su traseri; Pro fagher su quarteri Sa domo has arruinodu, E titolu has acchistadu De traitore e ispia. | 43. Deixas lá ficar a bolsa, e em troca vens todo inchado de cruz ao peito enfeitado e uma chave no traseiro. Para seres da corte useiro, a família arruinaste: Grau de traidor conquistaste na Ordem da bufaria. |
44. Su chelu non faghet sempre Sa malissia triunfare, Su mundu det reformare Sas cosas ch 'andana male, Su sistema feudale Non podet durare meda? Custu bender pro moneda Sos pobulos det sensare. | 44. Não deixa o Céu toda a vida a maldade triunfar, deve o mundo reformar as coisas que andam mal. Assim o sistema feudal tem já o tempo contado que o desumano mercado de povos tem de acabar. |
45. S'homine chi s 'impostura Haiat già degradadu Paret chi a s'antigu gradu Alzare cherfat de nou; Paret chi su rangu sou Pretendat s'humanidade; Sardos mios, ischidade E sighide custa ghia. | 45. O homem que a sujeição tanto fez envilecer, triunfal se há de erguer à sua antiga dignidade; Parece que a humanidade recupera a condição. Sardo, acorda, meu irmão, que é só esta a nossa via. |
46. Custa, pobulos, est s'hora D'estirpare sos abusos! A terra sos malos usos, A terra su dispotismu; Gherra, gherra a s'egoismu, Et gherra a sos oppressores; Custos tirannos minores Est prezisu humiliare. | 46. Ó povos, chegou a hora de extirpar todo o abuso! Este mau regime acuso: Fora! Abaixo o despotismo! Guerra, guerra ao egoísmo, guerra contra os opressores, que estes baixos ditadores devemos nós humilhar. |
47. Si no, chalchi die a mossu Bo 'nde segade' su didu. Como ch'est su filu ordidu A bois toccat a tessere, Mizzi chi poi det essere Tardu s 'arrepentimentu; Cando si tenet su bentu Est prezisu bentulare. | 47. Que um dia não vos queixeis por esta ocasião perdida; agora está a linha urdida: é a altura de a tecer, que depois pode já ser tarde p’ra o arrependimento. Ao vir de feição o vento é que convém debulhar. |